Recentemente ouvi um pitch do Sandro Carsava, Head de Sales Solutions LatAm do LinkedIn, que me deixou intrigado: O verdadeiro ROI da Inteligência Artificial do Sales Navigator para as empresas não vem de melhorar a performance dos vendedores Top, mas sim de aumentar o desempenho dos vendedores medianos.
Como assim? É uma questão de escala. Sabemos que nas equipes há mais profissionais medianos do que top. Com a IA, ao aumentar consideravelmente o resultado dos vendedores medianos para ficarem bons vendedores, a escala vence o indivíduo. Simples assim.
É uma estratégia brilhante, mas eu saí com uma inquietação.
Trabalho ajudando pessoas a fazerem o seu melhor, a serem excelentes tanto na vida profissional quanto pessoal. Elas conseguem ter mais flow, se destacam e vivem com mais propósito e felicidade. O lema é focar nos pontos fortes e gerenciar pontos fracos. Isso trará desempenho superior para a empresa e engajamento com qualidade de vida.
Agora, se o C-level começa a investir em IA para os profissionais medianos, isso não vai na contramão dos pontos fortes? Pra que investir em talento se a IA vai dar a força bruta para todos? Não vão me usar para treinar a IA e aí me substituírem por profissionais mais juniores, mas que operam IA?
Acredito que o jogo mudou. Por isso precisamos saber jogar nesse novo cenário. Bora explorarmos juntos as possibilidades...
Como a IA pode te transformar de mediano para competente rapidamente?
Em uma frase: Acelerando seu aprendizado e te complementando como parceira.
Aprendizado Personalizado: A IA pode adaptar o conteúdo educacional às necessidades individuais de cada pessoa, permitindo um aprendizado mais eficaz. Por exemplo, sistemas de IA podem analisar o desempenho de um aluno em tempo real e ajustar o material de ensino para abordar áreas específicas onde o aluno precisa de mais ajuda.
Simulações com Feedback Imediato: Se você já assistiu o filme "No Limite do Amanhã", já sabe que repetição constante ajuda a aprender melhor. Com a IA, é possível receber feedback instantâneo sobre tarefas e exercícios. Isso permite que as pessoas identifiquem rapidamente suas fraquezas e trabalhem nelas de forma mais direcionada.
Assistentes Virtuais: Desde automação de atividades até análises complexas. Talvez sua disciplina seja fraca. A IA pode criar rotinas e administrar sua agenda para que você não perca nenhuma entrega. Inclusive ela pode ajudar você a construir hábitos para cuidar da sua saúde física, financeira e mental. Talvez seu pensamento analítico seja fraco. Ela pode ajudar você a realizar análises com mais precisão.
Em outras palavras, Inteligência Artifical pode compensar seus pontos fracos e te levar da mediocridade para um bom desempenho, quiçá excelente.
Pontos Fortes vs IA: Quem Ganha?
Hoje ninguém apostaria numa corrida pessoa vs carro. Ou grandmaster de xadrez vs IA. Garry Kasparov foi nosso primeiro grande herói a ser derrotado pel a máquina.
No excelente artigo do prof. Jonny Silva sobre “Carreira Centauro”, ele cita um experimento que o próprio Kasparov conduziu, fazendo torneios de xadrez em que competiam equipes de apenas pessoas, pessoas + IA e apenas IA.
Uma das surpresas do experimento foi descobrir que as melhores equipes eram mistas (pessoas + IA). Elas derrotaram equipes 100% IA.
Outro ponto que chamou muito a minha atenção no artigo do Jonny foi sobre estudos que mostram que a pessoa que trabalha com uma máquina inteligente não precisa ser um especialista na tarefa a desempenhar.
Você já deve ter ouvido falar de que quem vai ficar com o seu emprego não é a IA, mas alguém que sabe usar IA. É disso que estamos falando.
Conheço casos de empresas que fizeram isso. Os especialistas treinaram os novatos, recém-formados da faculdade, que aprenderiam a trabalhar usando IA. Depois de treinados e gerando resultado, demitiram os especialistas. Os novatos geram mais resultados a um custo menor.
Fica a pergunta: Não vale mais a pena ser especialista? Vamos boicotar as IAs?
Soft Skills: o ponto fraco das IAs. Será?
Talvez hoje você veja as IAs atuais e tenha certeza que elas fazem o que você faz de forma bem pior. Especialmente se você trabalha com soft skills ou com desenvolvimento humano, como eu.
"Ah, as pessoas não vão conseguir se relacionar de verdade com uma máquina. Emoção é algo humano. Isso que nos faz especiais..."
O problema não está na emoção da máquina. Está em como nós humanizamos aquilo que se relaciona conosco. Crianças se afeiçoam com cobertores e bichos de pelúcia. Adultos se relacionam com objetos e animais.
Você não precisa sentir para fazer o outro sentir. Quem aqui nunca se emocionou lendo um livro, ouvindo uma música, ou assistindo um filme ou uma série? Ou quem nunca ficou impressionado com um mágico ilusionista?
Nossas mentes constroem essas percepções e evocam essas emoções. Quem nunca se emocionou com a simples memória de algum momento impactante do passado?
Uma IA que consiga imitar bem o suficiente funciona como um ilusionista. Nossa mente se encarrega de fazer a mágica acontecer. É só ver a reação das pessoas ao ouvir as novas IA’s multimodais que falam com humor e entonação. Elas podem contar histórias de terror ou citar poemas românticos.
Escuta ativa é uma soft skill que pode ser executada facilmente por uma IA, com desempenho até melhor do que uma pessoa. A máquina vai te fazer uma pergunta, escutar com atenção sem te cortar, pedir mais, resumir o que você disse, tudo conforme as melhores práticas. Ela seguirá o protocolo de forma exemplar. Coisa que nós humanos nem sempre fazemos. Dá vontade de opinar, olhamos feio, nem sempre estamos prestando atenção na outra pessoa.
Os especialistas em persuasão sabem como brincar e manipular as emoções das pessoas com quem interagem. Se isso são técnicas, a IA pode aprendê-las e simulá-las até que fiquem bem realistas.
Por isso, muito cuidado ao afirmar que IA’s nunca vão poder substituir aquilo que é inerentemente humano. Precisamos definir melhor o que é esse inerentemente humano.
Na China, tem empresas oferecendo digitalizar uma pessoa querida que faleceu. Se você tiver gravações o suficiente da pessoa, não é tão difícil criar uma cópia que soe e pareça com a pessoa. É uma repetição de padrões que te faz reconhecer aquela pessoa. As pessoas passam a se relacionar com a máquina, que emula alguém de verdade.
E agora, o que não pode ser copiado?
Como engenheiro e professor de robótica, sempre encarei talentos como algoritmos. A definição de talento que utilizo é a de Don Clifton, pai da psicologia de pontos fortes: padrão natural recorrente de pensamento, sentimento ou comportamento que pode ser aplicado de forma produtiva.
Se tem padrão, pode ser descrito como algoritmo. O algoritmo recebe um estímulo (input), realiza um processo (process) e gera um resultado (output). Talentos fazem a mesma coisa, só que de forma automática dentro de nossas mentes.
Então, o que o algoritmo natural (talento) tem de diferente do algoritmo artificial (IA)?
Os sensores. Nossos algoritmos naturais capturam nuances que nem sabemos como explicar. É a nossa intuição. Inferimos coisas a partir da expressão facial, dos movimentos, da entonação da voz, da temperatura do ambiente, da iluminação, de nosso estado emocional, de todos os nossos 5 sentidos.
Uma máquina não consegue ainda perceber tudo isso. Ela pode tentar ler um padrão com base na troca de mensagens. É como se você só tivesse sua mente, mas não possuísse corpo.
É por isso que talento não é transferível. Esses padrões estão organizados dentro das suas sinapses, e ninguém tem o mesmo conjunto de talentos. Já técnicas e conhecimento podem ser transferíveis, e as IA’s podem processar tudo isso bem melhor e mais rápido do que nós.
Se combinarmos nossos talentos com a IA, vejo um ganho exponencial, pois aqui você consegue alavancar seu potencial e usar a IA para explorar melhor cenários e te treinar para estar cada vez melhor. Seus algoritmos naturais ficarão mais fortes e farão uma simbiose com os algoritmos artificiais.
Novo Jogo, Nova Estratégia
Pontos Fortes + Inteligência Artificial (IA) = crescimento exponencial
Foque nos seus pontos fortes, usando a IA para voar mais longe. Se você gosta de brainstorming, use a IA para ter ainda mais ideias e filtrá-las. Se você organiza bem, use a IA para aprimorar sua organização. É como ter um segundo cérebro, um turbo para o seu superpoder.
A chave é você usar a IA para entrar em flow mais rápido e aumentar sua produtividade e bem-estar.
Pontos Fracos + Inteligência Artificial (IA) = parceria poderosa
Gerencie seus pontos fracos com IA. Encontre apps, terceirize tudo o que der para que você. Contrate seus agentes automáticos, que farão o trabalho que costuma drenar suas forças e motivação e que você faz de forma mediana. Aproveite que a IA vai te cobrir. Provavelmente isso terá um custo, mas será menor do que focar naquilo que realmente interessa. Quanto antes você resolver essas questões, mais rápido você poderá focar nos seus pontos fortes.
A chave é você escolher e usar a IA adequada para fazer o trabalho pesado no seu lugar.
Como usar a IA na Prática
Aqui trago uma ideia paradoxal. Inteligência artificial é algo de fora que te melhora. Talento é algo de dentro para fora. Como encaixar as duas coisas para haver sinergia? A resposta está no autoconhecimento.
Além de Deus, só você sabe o que te motiva, o que te faz sentir vivo e engajado, o que te drenam as forças, o que te frustra, o que você ama e o que você odeia.
Então, você precisa se conhecer bem para saber quais são os seus pontos fortes e fracos, para poder saber como usar a IA da melhor forma para você se desenvolver. Não tem fórmula pronta, não tem receita mágica.
Por isso estou investindo na construção de modelos de desenvolvimento humano que combinam auto conhecimento com ferramentas de IA. Assim você consegue usar a IA para desenvolver suas soft skills do seu jeito. Use a sua natureza a seu favor.
Concluindo, embora a IA possa melhorar o desempenho e corrigir fraquezas, ela não pode substituir os talentos naturais que impulsionam a inovação, os relacionamentos e o potencial humano. A sinergia entre as capacidades da IA e o talento humano pode criar uma nova geração de profissionais de altíssimo nível, mais dinâmica, inovadora e emocionalmente inteligente. Abraçar ambos é fundamental para prosperar no futuro do trabalho.
Quem é Calebe Luo?
Atuo como coach de Pontos Fortes Certificado pela Gallup desde que o método chegou ao Brasil, tendo treinado mais de 150 colegas nos últimos anos. Além disso, já liderei equipes que venceram 2 edições do prêmio CIAB Febraban e sou professor de robótica com LEGO.
Ao todo, mais de 2 mil pessoas de mais de 50 organizações já foram transformadas pelo meu trabalho. Acredito que Pontos Fortes é um caminho virtuoso para o florescimento humano e tenho orgulho de fazer parte desse movimento.
Meus Top 5 CliftonStrengths são: Conexão | Individualização | Estratégico | Excelência | Relacionamento
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